quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sófia, o Prior Velho dos Balcãs

Escrevi algures aí para baixo que Varsóvia era a cidade mais feia que alguma vez tinha visto. Deixou de ser.
Uma das vantagens de viajar é aumentar consideravelmente o leque de comparativos. A "mais qualquer coisa" deixa potencialmente de o ser a cada novo destino.
Varsóvia (formada por um pequeno centro histórico património da Unesco e por uma imensidão de caixotes russos) está para Sófia, como Paris está para o Algueirão.
Sófia é tão feia, tão feia, tão feia, que ao fim de 3 horas na cidade já me queria ir embora.
Se eu tivesse que definir Sófia em poucas palavras diria: Sacavém, mas em grande.
Uma imensidão de prédios degradados, parques abandonados, ruas esburacadas e passeios desnivelados. Em toda a cidade contei 50 m2 minimamente arranjados. A rua do parlamento e da catedral Alexander Nevsky (o marco da cidade).
É como se estivéssemos num enorme subúrbio que por acaso é uma capital europeia.
Os camaradas locais não esbanjam simpatia e inglês só mesmo nos filmes.
Uma nota positiva para o repasto e para o vinho local. Não fazia ideia que por aqueles lados se pisava a uva com alguma qualidade.
Fiquei também a saber que o cirílico foi inventado pelos búlgaros e copiado pelos russos. Andar por aqueles lados sem GPS é uma pequena aventura...não há uma placa num alfabeto que se perceba nem uma pessoa capaz de dizer duas frases em inglês.
Não é definitivamente uma cidade preparada (ou sequer com interesse) para o turismo.
Outra coisa extremamente positiva em Sófia: a estrada para a Grécia.
Resolvi entrar nela e parar perto do mar Egeu. Enquanto atravessava a Bulgária ia percebendo que Sófia não era obra do acaso. O país é uma lixeira a céu aberto.
Ultimamente andava virado para o turismo de choque. Ver "coisas diferentes" e realidades distantes. Tinha pensado na Albânia, Macedónia e Moldávia. Depois desta viagem deixei-me de romantismos.
Vou fazer a trouxa e seguir para a civilizacão.












segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Barcelona, o melhor xixi da Europa








Ao fim de 3 passagens por Barcelona a primeira conclusão que importa partilhar é que, como se vê, não tenho uma única fotografia da Sagrada Familia. Mas tenho várias de tascos. Não se pode ter tudo...
Como diz um dos camaradas exposto ali em cima: "Barcelona deve ter as casas de banho mais limpas do mundo". E isto porquê? Porque ninguém as usa. O aperto vem e a parede alivia.
Isto aplica-se na perfeicão ao bairro escolhido para poiso: El Raval.
Faz o Cais do Sodré parecer o jardim botânico de Lisboa.
Retirando esse pormenor, adorei Barcelona. Há gente na rua, muita animacão, bairros lindíssimos (como por exemplo o Gótico) e uma antiga lixeira transformada em cidade olímpica à beira do Mediterrâneo.
Os jogos olímpicos de 92 deram uma nova cara à cidade e o resultado é, nos dias de hoje, uma zona de lazer absolutamente incrivel. Poucas serão as cidades que albergam tudo o que Barcelona tem para oferecer: cultura, diversão, história, ligacões e o mar (em condicões de ser usado pelos habitantes!) a dois passos. E tudo isto num "melting pot" (à la Lonely Planet) de nacionalidades.
Barcelona é uma espécie de Amsterdão, mas melhor. Quem tem um mar quente à porta de casa, tem quase tudo.
Não há muito a dizer sobre a gastronomia...decididamente não percebo o fascinio de pão com pão. Já se for pão com caldo, ovo escalfado, uma posta de bacalhau e coentros, tudo bem.
Esta última passagem por Barcelona coincidiu com o "dia da Catalunha" ou qualquer coisa desse género. O dia oficial para dizerem que não são espanhóis.
Acho curiosa esta determinacão dos Catalães. Reza a história que enquanto Castela andava à pedrada com a Catalunha, nós desenrascámos o nosso cantinho. Ficamos a dever-vos uma rapaziada.
Mais 2 ou 3 Kosovos e Madrid terá que fazer contas à vida.
É um facto que não passei na Sagrada Família desta vez mas também não me parece grave. Há mais de um século que estão a tentar acabá-la e o prazo está em 20 - 40 anos. Como diria o meu avô..."há teeeeempo".
Barcelona é o escape ideal para um fim-de-semana (seja qual for o programa) e para nós Portugueses, mesmo ali ao lado e com vôos a 40 euro, não há desculpa.
Vai directamente para a lista das "sempre que conseguir".

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Croácia, de Rovinj até Split





















Corria o ano de 2004 e eu, para não variar muito, andava a tropecar nos erros da vida.
Ainda não tinha descoberto o mundo encantado da "Lonely Planet" e resolvi fazer um guia de viagem para visitar a Croácia. Obrigado Autoeuropa pela impressora, pelos separadores e pela capa de plástico. Guardo-vos no coracão. A vocês e ao arroz-doce da cantina que era um mimo.
A Croácia ainda não tinha "rebentado" como destino turistico o que equivale a dizer que nem EasyJet ou Ryan Air montavam por lá o acampamento. Depois de alguma pesquisa percebi que a porta mais barata para entrar no país seria Rovinj. Um pequena vila costeira no norte que tinha a particularidade de ser o porto de abrigo do ferry que nos transportaria, em apenas 2 horas, de Veneza.
Veneza por sua vez estava a pouco mais de 2h de Lisboa num vôo bastante barato da sempre odiosa Iberia. Tudo se encaixava para entrar pela primeira vez nos Balcãs.
O plano era simples. Chegar e dormir em Rovinj, alugar um carro 50 km mais a sul, em Pula, e a partir daí descer a costa até onde conseguíssemos. O prazo estipulado seriam 11 dias.
Aquele pedaco de terra que hoje envolve o Adriático no lado croata foi, durante mais de 7 séculos, parte integrante do Reino de Veneza. Não é por isso de espantar a beleza de cada vila ou cidade que cruza o nosso caminho. São pedacos de Itália perdidos entre os vestígios do Império.
A influência dos italianos é grande. Na mesa, na arquitectura, nos hábitos. Em Pula, por exemplo, a maior atraccão turistica é um coliseu romano...
Rovinj, a pequena vila que nos recebeu, é de um encanto extremo. Principalmente nas ruelas da elevada parte antiga. Um destino por si só.
Seguimos em direccão a Zagreb, a capital. O único ponto no mapa em que nos afastaríamos do mar. Não será por acaso que um país com tanto mar escolhe para capital uma das poucas cidades que não o vê. Defesa, arriscaria eu.
Nesta altura, em 2004, as estradas que ligavam as principais cidades do país já eram óptimas. E a vista também. Chegar a Zagreb não custou nada, estacionar no centro já foi mais dificil.
Viajava com uma amiga de longa data. Descobrir é óptimo, mas descobrir com amigos por perto é inesquecível.
Zagreb revelou-se uma cidade agradável. Bonita, não muito caótica e com uma parte velha (Stari Grad) a fazer as delícias dos turistas. Não posso dizer que seja a minha zona preferida na Croácia, mas é sempre um prazer lá voltar.
Já não sei em que tasca/monumento/restaurante encontrámos dois outros portugueses que, curiosamente, tinham sido nossos colegas de curso. O mundo é um quintal.
Fomos beber um copo às docas lá do sítio. Pelo caminho, depois de nos perdermos algumas vezes, saí do carro num semáforo algures nos subúrbios da cidade e perguntei por direccões.
Os croatas são, de uma forma geral, gente simpática. À pergunta "do you speak English?" respondem sempre com um valente "Yes". Quando comecam a dar as direccões usam os bracos. Se não fosse a universal linguagem gestual ainda hoje estávamos a tentar encontrar Meca...
Aproximei-me e perguntei: "Do you speak English?". "Yes, I do", ouvi. "Agora comeca a cena dos bracos", pensei. Mas não. Inglês perfeito e aquilo que seria uma conversa de 30 segundos terminou em meia-hora, uma cerveja e as saudades do Tito. Uma amizade feita num semáforo que, 8 anos e mais algumas passagens pela Croácia depois, ainda perdura.
Saímos de Zagreb em direccão a Zadar, no regresso ao mar. Uma cidade branca. Famosa pelo seu orgão que compõe melodias aos sabor das ondas.
Não fizémos todas as reservas a partir de Lisboa. Algumas noites estavam garantidas, outras não. Continuámos a descer a costa em direccão a Split. Provavelmente a minha cidade preferida na Croácia.
Toda a cidade cresceu à volta do impressionante palácio do antigo imperador romano Diocleciano. Há vida no interior daqueles muros, há um arquipélago fora deles.
Foi nesta zona da Croácia (Dalmácia) que aprendi o conceito de "praia sem areia". Deu-me jeito quando aterrei de armas e bagagens na Suécia...
Praias de cimento, rocha, calhau, brita ou areia das obras. Tudo bem. A cor daquele mar compensa tudo. Não há praia como a nossa...
Ficámos duas noites a bater perna em Split. Uma senhora simpática, emigrante na Alemanha, tinha juntado uns marcos, recuperado uma vivenda e alugava agora quartos, com vista para o Adriático, bem perto do centro.
Tinha visto, ainda em Lisboa, uma imagem de uma ilha na Dalmácia (Supetar) com uma praia em forma de "cueca", Bol. O ferry partia mesmo ali à nossa frente.
Fomos desbravar. Areia, nem vê-la. Seixos sim. Metade das pessoas estavam nuas. Positivo.
O mar era limpo, calmo e cristalino. Dificil de esquecer.
Encontrar alojamento também não foi dificl. Alguns velhotes ofereciam quartos, rooms, chambres e até zimmers à saída do ferry. Depois era só negociar o preco. Tudo, tirando o primeiro hotel em Rovinj (um mamarracho ao estilo russo com precos papa-turista), foi para lá de barato. Até no subsídio de férias da Autoeuropa encaixava...
A auto-estrada terminava em Split. Dubrovnik, estava apenas a 300km mas o tempo já não chegava. Tivémos que voltar para norte, deixar o carro e apanhar o ferry para Veneza.
Lembro-me que fiquei com muita pena de não conhecer Dubrovnik. A estrada foi entretanto concluída e descer a costa croata até à fronteira com o Montenegro é hoje em dia, um "saltinho".
Regressei mais 3 vezes à Croácia. Curiosamente (ou não), em alturas particularmente dificeis da minha vida. Descobri Dubrovnik e fiquei encantado (há algures outro texto aqui no blogue sobre essa passagem).
Desde 2004 até hoje percorri quase todos os países dos Balcãs. A Croácia continua a ser aquele que mais gosto. Aliás, depois das paredes caiadas do Alentejo, quase que arriscaria dizer que a Croácia é o meu destino preferido no velho Continente. Mas claro...ainda há muita poeira para levantar. O "preferido" deixa potencialmente de fazer sentido em cada aterragem.
Não sei se cheguei a dizer, adoro a Croácia.

Paris II
















Regressei de Paris há poucos dias e pensei em fazer um adenda ao primeiro texto, algures ali em baixo, mas concluí que isso seria uma asneira.
Voltei à cidade luz 8 anos depois da minha primeira e única visita. A opinião que tenho hoje é substancialmente diferente, para melhor.
Paris é uma cidade de inquestionável beleza arquitectónica, cheia de vida e carregada de história. Tudo certo, tudo óbvio e descascado na primeira passagem. Ainda assim, sem que eu consiga explicar porquê, nunca esteve na minha lista de prioridades. Por aí se justificam os 8 anos...
Desta vez tudo foi diferente. Terão sido os olhos, mais velhos necessariamente, a apreciar melhor a cidade? Provavelmente.
Dediquei-me um pouco mais à gastronomia, "desporto" que aprecio em cada passagem no sul da europa excepto nas visitas a nuestros hermanos. Aliás, a este propósito gostava de perceber porque é tão apreciada a cozinha espanhola? Não é que eu conheca o país todo mas já passei por Barcelona, Madrid, Cádiz, Sevilha, Valência, Málaga, Granada, Saragoca e Pirinéus e ainda estou para descobrir algo diferente de arroz no tacho, carne e peixe frito, pão, pão e pão. Li algures que San Sebastian é a meca da cozinha espanhola. Lá irei mas por favor, se pão com queijo e presunto é "gourmet", o Alentejo inteiro deveria estar no guia Michelin.
Mas voltando a Paris.
Escolhi o "quartier latin" como base e não me arrependi. A Notre Dame estava a 2 passos, o Louvre a 3. O Panteão e a escola do Sócrates na rua do lado. Ainda o procurei para uma troca de impressões e um café au lait, mas não aconteceu...
Come-se bem em Paris. Não tem que ser elaborado ou caro. É simplesmente bom.
O turismo deve ser a maior fonte de receita local. Franca está sempre no top 2 de países mais visitados do mundo (com os EUA) e Paris será certamente o destino preferencial. Há hordas de turistas por todo o lado mas a cidade está bem preparada. Hotéis e transportes funcionais.
Paris junta a sua riqueza histórica e beleza imperial (os excessos dos vários imperadores fazem hoje as delícias dos visitantes) a um pormenor, pelo menos para mim, importante: o céu azul.
Uma coisa é visitar o Big Ben carregado de nuvens, outra é subir à torre Eiffel debaixo de um cortinado azul celeste.
Há uma discussão constante sobre a cidade mais cosmopolita da europa. Londres ou Paris? Berlim?
Passei várias vezes por Londres e apenas uma por Berlim, contudo, hoje não tenho qualquer dúvida. Como diz uma amiga minha: "Há Paris...e depois as outras".
O ambiente é mais descontraído e alegre. Os pubs escuros são substituidos por esplanadas. As nuvens dão lugar ao céu. E...com maior ou menor conservacão, cada rua é uma obra de arte, cada edifício um monumento. A cidade é bonita. Ponto final.
Não consigo perceber porque engonhei tanto para lá voltar.
Claro que este encanto é válido para a cidade. Apenas. Os subúrbios são outro planeta.
Mas enfim...ninguém vai a Lisboa para conhecer Odivelas certo?