quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Santa Maria, Acores

















Tenho alguma dificuldade em falar sobre Santa Maria como um destino turistico. Para mim representa muito mais do que isso, uma vez que por lá passei parte da minha infância e ainda hoje mantenho uma ligacao familiar com a ilha.
Contudo, nao deixa de ser um excepcional e pouco divulgado destino turístico pelo que, fica o relato para quem nunca lá passou.
Santa Maria é uma das mais pequenas ilhas acorianas (se nao me engano a segunda) com uma populacao de pouco mais de 5000 habitantes. Rezam os livros de história que foi a primeira a ser avistada pelos navegadores Portugueses. Fortuna do destino? Nem tanto. O facto de ser a ilha mais próxima do território continental Português deve ter ajudado...
Os Acores enquanto destino turistico sao um pequeno paraiso para os amantes da natureza. Ao contrário de, por exemplo, Madeira e Algarve, os sucessivos governos regionais nunca apostaram no turismo de pacote e na destruicao da costa para agradar mecânicos ingleses ou camionistas alemaes.
Os Acores apresentam como cartao de visita a sua beleza natural. E ainda bem que é assim.
No caso concreto de Santa Maria, o turismo é claramente afectado pela sombra da maior ilha (Sao Miguel) mesmo ali ao lado. Parece-me é esta ilha, talvez com Pico e Faial, que recebem as maiores remessas de visitantes.
Pessoalmente, acho isso óptimo. Santa Maria é uma espécie de paraíso perdido no meio do Atlântico.
Há praias de areia escura, água temperada, montes e vales, verde a perder de vista, trilhos para marcados para caminhar e uma oferta decente de restaurantes e entretenimento.
As pessoas sao simpáticas e, vantagem assinalável, perceptíveis desde a primeira palavra ao contrário dos seus camaradas da ilha vizinha.
Quem visita Santa Maria nao deve esperar, felizmente, uma Ibiza. É essencialmente um sítio para ver, respirar e sentir. O descanso é absoluto.
A excepcao será talvez o mês de Agosto. Os emigrantes do Massachusetts aparecem para visitar a família e o lendário festival "Maré de Agosto" arrasta mais umas centenas largas.
A praia fica mais apertada e a frase "ehh Jason...queres uma burger com Kima??" volta aos tops.
Na realidade nao sei se chegam de Massachusetts, mas quero pensar que sim.  Como diriam os rapazes do falsete: "and the lights all went out in massachusetts". E seguiram para Santa Maria.
Há ainda um manjar gastronómico que é, até ao dia de hoje, a única prova palpável da fé católica: as sopas de império.
Um caldo com carne de vaca, erva da ilha, pao caseiro e vinho. Uma iguaria que me deixa sempre a salivar, oferecida em datas especificas (normalmente no Verao) a qualquer pessoa que passe, por particulares que desta forma pagam uma "dívida de fé" ao Espírito Santo.
O dia perfeito em Sta Maria tem sol, praia e sopas de império ao almoco e ao jantar.
E no fim, adormecer com o Atlântico na janela.
Apenas a 2 horas de Lisboa...vá, esquecam lá a Quarteira.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

De Konstanz até à curva seguinte


















Pela qualidade da fotografia percebe-se que estamos na década de 90. Pela qualidade do cabelo também.
Konstanz (Constância) é uma pequena cidade universitária no sul da Alemanha. Banhada por um lago de idêntico nome ("Bodensee" em Merklês) e paredes-meias com as fronteiras de Suica, Áustria e Lichteinstein. Desta vez arrisquei escrever o nome sem ir ao google...aposto que está errado. Daqui para a frente, e como estou entre amigos, chamar-lhe-ei "Lixa".
Ora...porque foi especial esta viagem? Porque foi a primeira.
Tirando a ponte aérea que fazia regularmente desde os 8 anos entre Portugal Continental e Ilhas ou as célebres deslocacoes a Espanha para comprar caramelos, a viagem a Konstanz foi verdadeiramente a primeira vez que me afastei de Lisboa. Tinha 20 anos e nem percebia a sorte que me rodeava.
Apanhado numa visita familiar, que nao minha, aproveitei o simpático convite para ver algo diferente.  E se vi....
Recordo sempre com um sorriso esta viagem. Voltei mais tarde ao mesmo sítio, mas é difícil repetir emocoes da estreia.
Nesta altura ainda achava que os alemaes eram simpáticos e a Alemanha um sitio suportável. Konstanz, honra lhe seja feita, é uma cidade bonita e muito agradável. Uma das poucas que nao foi destruída pela II GG. Como já escrevi algures, a Alemanha foi o país que mais visitei desde entao, em turismo ou por motivos profissionais. De Norte a Sul, Este a Oeste, passando por todas as cidades mais importantes. Já nao partilho a opiniao dos tenros 20 anos.
Mas Konstanz e esta viagem em particular sao alheios a isso.
Desde logo a situacao geográfica da cidade. Banhada por um lago enorme, protegida pelas montanhas e a poucos passos da Suica.
A forma mais rápida de lá chegar foi através de Zurique. Primeira exclamacao da viagem: um aeroporto com comboio. Nunca tinha visto. O Planet Hollywood com as maos da Demi Moore ou o famoso Sprüngli com chocolate do dia. Uma cidade limpa, as lojas da Cartier, os carros de luxo. Tudo novidade.
Novo choque quando entrei na casa dos meus simpáticos anfitrioes: estava quente. Nunca tinha estado numa casa aquecida, ou vá lá, onde o calor nao estivesse concentrado no "elemento" ou na lareira. A casa estava a uma temperatura constante. Lá fora gelo, cá dentro t-shirt.
Lembro-me também, bem, de alguns livros que por lá encontrei. "Comunismo na Colômbia" e o "Tarrafal". Este último marcou-me bastante num período em que tentava perceber os movimentos políticos no nosso país. Quando vejo o que se passa hoje e o destino que Passos Coelho e Relvas reservam para o país, penso, mais valia ter ficado quieto.
Quem me recebeu em Konstanz deu-me a possibilidade de experimentar uma série de coisas novas. Gyros e tsatsiki por exemplo. A iniciacao no repasto grego. "Pao com fatias de carne", kebab para os amigos, dos turcos. Desportos de neve. A primeira vez que me "montei" num ski ajudado por um instrutor que mal falava inglês e que me largou de uma ladeira sem explicar como se travava. Fiquei com os joelhos inteiros e também com o gosto pela modalidade.
A coincidência de ter conhecido o Lichsteinstein, um principado com 3 ruas e um castelo lá no alto. Numa das ruas está a capital (Vaduz) e na rua de baixo o estádio que Portugal normalmente usa para as escovas nas fases de qualificacao.
E porquê coincidência? Porque normalmente, a caminho das montanhas na Suica, uma curva errada dava entrada na Áustria ou no Lichtenstein. E essa era normalmente a emocao do dia...sair de casa para um dia de ski na Suica, sem saber para onde nos levaria a curva seguinte.
O meu anfitriao nao me levará a mal se confidenciar que me fartei de rir dentro daquele carro. Enfim, como disse ali em cima nem sabia a sorte que tinha.
Agora que penso nisso, será que agredeci vezes suficientes a experiência única que me proporcionaram? Espero bem que sim.
Konstanz foi a minha primeira vez nesta coisa da mochila às costas. E foi único.
Para quem quer visitar a Alemanha e ver uma cidade sem a cosmética (feia q.b.) do pós-guerra nao deixe de passar por lá.
E enganem-se nas curvas também. Vale a pena.