quinta-feira, 27 de maio de 2010

Riga






























Começo por dizer que Riga é uma agradável supresa.
Depois de visitar Budapeste, Varsóvia e Praga, segui a "Cortina de Ferro" para o lado do Báltico. Primeiro Tallinn e depois Riga. Estas duas capitais, especialmente Riga onde estive mais tempo, limparam um pouco a imagem que trazia, e que já descrevi, sobre locais e pessoas que estiveram debaixo da capa da URSS durante décadas.
Em Riga vi sorrisos, simpatia, organização, educação e cordialidade. Todas as pessoas com quem falei dominavam perfeitamente o inglês. É normal, pelo menos na geração actual, o domínio de 3 línguas: letão, russo e inglês. Pelo que percebi, e talvez seja uma análise simplista, a diferença maior para os países que a URSS dominou no centro da Europa (Roménia, Hungria, Rep. Checa, Eslováquia, Polónia, etc) está essencialmente na educação. Antes dos russos chegarem ao Báltico já esta malta tinha um sistema educativo bastante bom (influência dos suecos e dos alemães). É normal ver pessoas com a idade dos meus avós com a escolaridade obrigatória, formação técnica ou mesmo superior. O Estaline fez ali o mesmo que em qualquer outro lado. Despachou hordas
de russos para Riga, abriu escolas para espalhar a língua e colocou um fantoche letão no poder. Contudo, e porque a base estava lá, os letões conseguiram aguentar a sua língua, a sua cultura, as suas tradições e a sua identidade enquanto povo independente. Já nos países do centro a história é diferente. Parece-me que a educação veio com os russos e os estragos foram bem maiores.
Talvez esteja enganado mas tenho a sensação que a educação como base e suporte de uma sociedade não é algo assim tão idiota.
Riga é uma cidade de constrastes. É a capital da Art Nouveau e só por isso passear nas suas ruas é um encanto. Mas é também uma capital, quem sabe a única no mundo, onde os locais estão em minoria. Há mais russos em Riga do que letões, o que prova que a qualidade de vida deverá ser melhor ali do que no território vizinho....
Uma das razões para tal prende-se com a opção tomada pela URSS depois da IIGG. Riga era, depois de Moscovo, a cidade mais cultural de todo o Império. Uma espécie de retiro para as altas patentes. Dentro da "Cortina de Ferro" Riga tinha por isso uma vida própria.
O que não quer dizer que fosse fácil...há que ter em conta o termo de comparação.
As várias salas para ópera, ballet e concertos provam a história recente. As igrejas ortodoxas, lindíssimas, mostram o quão enraízada está a comunidade russa. Não deve ser fácil administrar esta situação, ainda assim, parece-me que hoje em dia ambas as comunidades vivem em relativa harmonia.
A calma do quotidiano contrasta com os relatos sobre a chegada dos russos. Pouco simpáticos diga-se.
Imaginem que vivem com a vossa família numa casa grande. Um diga chega um major qualquer com 3 famílias russas num autocarro que vos diz: "A vossa casa é espaçosa e por isso a partir de hoje vão acolher estas 3 famílias!"
De repente...estás a dividir a tua casa com 15 pessoas que não conheces de lado nenhum. Não era bem esta a ideia que o outro camarada tinha quando escreveu sobre a "partilha" no comunismo. Enfim...mais do que um problema de interpretação certamente.
Fiquei bastante impressionado quando visitei o museu da ocupação. As histórias dos letões que regressaram da Sibéria nos anos 50 são impressionantes. Dos que regressaram...claro. Muitos não aguentaram as condições de "vida" nos gulags e muitos outros morreram na viagem para Riga...feita a pé.
Confesso que a história da URSS me fascina (o que é diferente de "agrada" note-se). Um império construído em cima de sangue. Não diferente de outros certamente, mas mais recente na memória. Até a história do hotel onde estava era dramática.
Os russos ocuparam a casa que passou a servir de dormitório para o exército vermelho. Os donos fugiram para a Suécia (para a ilha de Gotland) de barco com outros letões. Com a queda da URSS e a restauração da soberania, os netos regressaram a Riga e o governo restituiu o edifício à família. Depois de muitas obras de recuperação a família decidiu abrir portas transformando o espaço num hotel.
Fiquei encantado com esta pequena cidade. Bonita, cheia de cor e com uma arquitectura espantosa. Pessoas simpáticas, uma história muito interessante e uma oferta cultural apreciável.
Lá nisso Estaline tinha razão, é um bom retiro.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Budapeste















































Pensava eu que Budapeste era uma cidade bonita. E é mesmo.
Tudo o que define uma capital europeia está lá: arquitectura, história, cultura, confusão, trânsito e sujidade. Quase que me senti em casa (nessa desse lado).
A única coisa totalmente nova foi constatar que algumas pessoas vivem em edifícios cravados com marcas de bala. Na revolucão dos cravos bastou-nos a forca da palavra. Parece que não mas poupa a componente arquitectónica.
O tempo de passagem foi curto mas deu para perceber que a cidade merece uma nova visita.
Como qualquer turista que se preze dei uma voltinha no Danúbio e qual não foi o meu espanto quando a bordo a banda tocou o Danúbio Azul! Nem sei como se lembraram desta.
A parte histórica de Buda (império austro-húngaro) é lindíssima e a área cosmopolita de Peste mostra a abertura da cidade ao ocidente. Se é que faz sentido falar disso hoje em dia...
Os banhos de vapor e as águas quentes são por si só um bom cartão de visita.
O camarada Estaline deixou em pé muitos dos monumentos e edifícios construídos no tempo do império, o que torna a cidade muito mais agradável de visitar. Claro que em cada 3 passos percebemos que a cidade esteve do lado errado da cortina de ferro, mas ainda assim, a beleza imperial mantém-se.
O castelo de Buda, a primeira ponte, o parlamento, as casas termais, entre outros, são algumas das passagens obrigatórias (link).
O único problema de Budapeste, na minha opinião, é ter muitos húngaros.
Que malta ANTIPÁTICA. Falar inglês só mesmo na televisão e no canal da BBC, sorrir é um verbo desconhecido e educacão, também não me parece que seja um dos pontos fortes. Depois de visitar Praga, Varsóvia e Budapeste, comecei a acreditar que a malta de leste era naturalmente antipática. Ainda assim, dentro da escala "cara de limão", os húngaros foram claramente vencedores.
Fiquei com a sensacão que cada um dos húngaros com quem tive de falar (falar aqui é uma forca de expressão) tinha o pior emprego do mundo, tal era o frete para mexer cada braco.
Depois de pedir uma refeicão (se é que a um panado se pode chamar isso) pedi uma coca-cola quando a senhora já distava 10 cm do frigorífico e ao ver a sua expressão de "dasseeeee" agradeci ao deuses o facto de já não existirem por ali os pelotões de fuzilamento.
Numa das casas de banhos termais mais famosa (Széchenyi), visitada por milhares de turistas, nem uma só pessoa falava inglês. A começar pela senhora que vendia os bilhetes e a quem tínhamos que perguntar qual das 10000 hipóteses deveríamos seguir. Os modos de todos ali dentro eram de tal forma rudes que nem percebo o sucesso do local.
Para uma cidade tão turistica, uma pequena formacão de "como ser educado em 10 licões" para quem trabalha nos sítios mais visitados, seria uma verdadeira dádiva.
Agora que penso nisso, vou comecar a prestar atencão se nos "sitios do turista" em Lisboa quem nos visita é recebido com sorrisos ou não.
É que eu tenho a sensacão que somos simpáticos.
Ou vá lá, acolhedores.

Varsóvia






































Quando visitei Varsóvia, em Outubro de 2008, escrevi isto.
No que à cidade diz respeito a prosa era mais ou menos esta:
"Segundo reza a história, quando Adolfo disse: "É para meter no chão!" as SS levaram-no a sério e não deixarem os seus créditos por mãos alheias.
Varsóvia foi de tal forma arrasada (nem 15% da cidade ficou de pé) que no fim da II GG os polacos pensaram em mudar a capital para outra cidade.
Acabaram por desistir dessa ideia e resolveram meter, tijolo por tijolo, tudo no sítio, num esforco de reconstrução notável.
Varsóvia é por isso uma cidade de desiquilíbrios. No centro, a cidade velha, foi inteiramente recontruída com base em desenhos e fotografias da época. A arquitectura imita séculos passados e para quem não sabe o que por ali se passou, dificilmente imagina que a "cidade velha" tem pouco mais de 40 anos. A beleza do local mereceu a chancela da Unesco. Fora deste espaco é o caos. Blocos a perder de vista construídos pelos russos. Feios, grandes, sem cor, sem vida. Aqui e ali salta um arranha-céus construído depois da abertura ao ocidente. De um lado os gulags de Estaline, do outro lado os símbolos do capitalismo. Ideologias à parte...é tudo feio.
Aliás...basta sair uns metros da parte velha e o cenário veste-se de cinzento.
Os bairros judeus que serviram de gueto, estão hoje recuperados. Recuperados significa: com paredes. Alguns prédios mais modernos, pintados e com bom aspecto, têm normalmente guardas à porta. Outros, a cair de maduros, nem 1L de tinta. Não há um plano urbanístico. Cada prédio (ou conjunto de moradores) fala por si. Passar por aquelas ruas deixa uma sensacão esquisita. Um dos maiores dramas da nossa história comecou ali e continuou nos campos de concentracão. As placas de homenagem aparecem em cada esquina.
Do outro lado do rio Wisla está o mercado russo. Outrora o maior mercado da europa (onde se compravam entre outras coisas artigos militares) é hoje um conjunto de barracas onde asiáticos vendem tudo e mais alguma coisa. Uma espécie de feira de Carcavelos XXL, com o papel dos ciganos desempenhados por coreanos, chineses e vietnamitas.
Escapou-me a parte russa da coisa...
Se na vertente de camaradagem (viagem oferecida pela empresa aos 160 colaboradores do departamento) todos os objectivos foram alcancados (e eles são importantes principalmente para quem não é de cá), no contexto turístico não posso dizer o mesmo. Varsóvia é a primeira capital que não me deixa vontade de regressar. Mas também é verdade que nunca fui a Astana.
"
Ora...dois anos depois de ter escrito isto, o que me apetece dizer é que Astana deve ser espectacular (pelo menos ganhei curiosidade de ver a brancura da cidade).
É relativamente fácil imaginar porque é Varsóvia tão feia. Não tiveram vida fácil na IIGG e depois os russos fizeram o favor de destruir o resto. Compreende-se o caos. Há o gueto e toda uma série de momentos históricos que mudaram a nossa vida e que tiveram Varsóvia como palco. Há por isso algum interesse na visita, mas fica por aí. Há que não olhar em redor. A sério, tirando aquele pedacinho protegido pela Unesco, é de longe a capital mais feia que alguma vez vi.
A Polónia tem outros pontos de interesse para mim. Gdansk, Cracóvia e principalmente, Auschwitz, serão passagens obrigatórias, agora Varsóvia, só se o vulcão islandês me pregar alguma partida.

domingo, 9 de maio de 2010

Veneza























































Há cidades que entram de caras na lista "não podes bater a bota sem lá passar", Veneza é uma delas. Não faço ideia da estatística, mas imagino que, juntamente com Londres e Paris, seja a cidade europeia que mais cenários empresta à industria do cinema. Quem nunca viu estes canais num filme? Até o Bond já lá passou umas quatro vezes...
E é exactamente essa a sensação de quem atravessa cada uma das magnificas praças, de quem sobe as escadarias, de quem percorre cada uma das pontes. A sensação de que estamos a viver um filme.
Veneza é uma cidade lindíssima. Respira-se arte e cultura em cada esquina. A arquitectura reflete, e de que maneira, a influência dos 9 séculos da República de Veneza (o império caiu depois das invasões Napoleónicas no séc.XVIII....o meia-leca era tramado).
Há inúmeros pontos de interesse em Veneza. Quase que diria que basta sair do avião e entrar numa gôndola para ter a viagem ganha, mas há Vivaldi, há a ponte Rialto, a praça de S. Marcos com a sua famosíssima basílica e campanário, o carnaval, o festival de cinema, o grande canal, as casas construidas em cima de estacas, as igrejas, os canais escondidos, os barcos...essa particularidade única de nos deslocarmos para todo o lado de barco.
Claro que Veneza não é segredo nenhum ou para usar uma linguagem mais "rotas & destinos", uma "gema escondida" algures. É uma cidade que jorra turistas em cada canal. Faz sentido, é única e todos a querem ver.
Uma curiosidade sobre a água. É porquita. Bem porquita. Imagino que a quantidade de barcos não dê saúde ao Adriático no lado italiano. Aliás, é normal ver italianos aos magotes (gosto desta expressão embora não saiba o que é um magote) na costa croata. O mesmo Adriático é cristalino desse lado.
Mas, voltando a Veneza, por ser uma cidade famosa e com muitos visitantes, a lei da oferta e da procura é uma realidade. Nem tudo está feito para o turista da mochila às costas com o pequeno-almoço gamado no hotel (ouvi dizer).
Um dos dias em que passava pela praça de S. Marcos, entretido com aquele aviário que por lá deambula, ouvi o "Danúbio Azul" tocado ao vivo. O som, bastante agradável, vinha de uma das esplanadas, mais precisamente do famoso "Florian".
Claro que me sentei.
O empregado, que certamente apreciou a minha mochila e quem sabe os calções com buracos de traça, trouxe a ementa e delicadamente apontou para a última linha que dizia qualquer coisa deste género: "só para te sentares já estás a pagar 10 eur".
Olhei para o tipo de clientela e imaginei que o camarada não estivesse muito interessado em "mochileiros". O que foi um pena, porque a música estava mesmo boa e sinceramente, este tipo de salamaleque não me atrapalha muito. Encostei-me a apreciar o violino e pedi um café. Ou terá sido um cappuccino? Já não me lembro. Mas trazia um chocolatinho e tudo. Engonhei qb e aproveitei cada minuto. Foi o café mais caro da minha vida mas a música, que dura e dura, fez render, e bem, o peixe.
Foi a minha primeira passagem por Itália e fiquei encantado. Mais com o sítio do que com as pessoas. Talvez por estar habituado à típica hospitalidade lusa, não fiquei particularmente fã dos modos dos italianos. Mas enfim, nada como repetir a dose para tirar a prova dos 9.
Veneza é para repetir.