quinta-feira, 22 de maio de 2014

O Birkenau que Hitler, afinal, não queria...
























Quando aqui escrevo, raramente sei se, quem está desse lado, quer ler sobre o destino, sobre a forma de lá chegar ou os porquês de lá ir. E como não sei, opto por escrever o que me apetece, ou vá, aquilo que eu gostaria de ler.
Esta viagem tinha como destino o campo de concentracão na vila (ou será cidade?) de Oswiecim (ou Auschwitz como os alemães traduziram e eternizaram).
Varsóvia apareceu porque era a forma mais barata de chegar vindo de Gotemburgo e Cracóvia, a paragem natural dada a sua proximidade do campo.
Sobre Varsóvia não me alongarei muito. O relato de 2008 permanece actual. Apenas uma referência às obras um pouco por todo o lado...há esperanca para que Varsóvia fique menos feia.
Cracóvia é claramente de outro campeonato. Mais bonita, menos destruida, mais original. Tem encanto, história, referências. Uma cidade que só por si (e pelos arredores) justifica uma viagem à Polónia.
A cidade velha com os seus castelos, catedrais e pracas seculares. O bairro judaico, a fábrica de Schindler, as sinagogas, as basílicas. Gostei muito de Cracóvia e gostava de ter mais tempo e disponibilidade para a explorar com calma.
Esta não foi uma viagem normal. Não fui sozinho, com familiares ou um pequeno grupo de amigos. A pesquisa desta vez serviu para levar um grupo de pessoas, algumas que já conhecia, outras não, que tal como eu emigraram para a Suécia, algures na vida. Um grupo de 18 pessoas, com idades e feitios diferentes, que me fizeram passar por uma experiência nova no que a viagens diz respeito.
Nem sempre é fácil conciliar gostos, desejos e opiniões. Raramente se agrada a todos e, infelizmente, falta de paciência é claramente um dos meus piores defeitos, ainda assim, no fim da viagem, fiquei com uma sensacão boa. Gostei de os ter conhecido e até já tenho saudades da simpática alentejana que no centro de Cracóvia esperava por um arroz de pato e casqueiro alentejano, a jovem de Gemeses que queria Vaflas para sobremesa ou a miudagem que falava com sotaque de Esposende sem nunca lá ter vivido. Foi bom ter a ajuda de 2 colegas e foi bom ter lá estado. Conheci gente nova, ri-me outra vez e aprendi mais qualquer coisa, Isso é viajar.
Chegámos a Auschwitz, o objectivo da "expedicão". Se há sitios onde um guia tem a utilidade de um abajur no ártico durante os meses de Verão, já em Auschwitz ele é pura e simplesmente obrigatório. O que nos calhou era um apaixonado e estudioso do tema, há mais de 20 anos. E isso faz toda a diferenca.
Auschwitz tinha um campo militar polaco que depois da invasão foi aproveitado pelas SS para manter prisioneiros polacos (passou a ser Auschwitz  I). Mais tarde o campo foi ampliado para resolver a "questão Judaica" e surgiu assim Auschwitz  II, mais conhecido como Birkenau. A terceira parte do campo (Auschwitz  III) era um complexo fabril onde mão-de-obra escrava trabalhava na producão de químicos.
Todos ouvimos falar daquele campo, já vimos filmes e documentários mas, nada nos prepara para estar lá e ver.
Agora, que comeco a pensar em todos os detalhes que nos foram explicados, perdi a vontade de escrever.
Tudo aquilo é de uma violência e agressividade que não tinha espaco na era medieval, quanto mais há 70 anos...
Foi um gigantesco murro no estômago e a certeza de que deveria ser obrigatório, geracão após geracão, abrir as portas e colocar umas horas daquele percurso nos programas escolares. Só para que percebam que nada é garantido, nada do que conhecemos é certo ou eterno.
Aqueles anos ainda hoje inlfuenciam a nossa vida e as decisões de quem nos governa.
É bom aprender, perceber e fazer tudo para que a história jamais se repita.
Voltarei aos detalhes um dia destes. Por hoje já chega.



Ps - Este blogue será reformulado para tomar a forma de algo que se possa imprimir ou publicar. Quando perceber como fazer isso, digo qualquer coisa.

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Ora....onde é que eu estava?
No título talvez. Porque razão não queria Hitler a "solucão final" para a questão judaica? Há varias teorias sobre os campos de concentracão, uma delas chega pelo nosso guia, um estudioso da matéria desde a década de 90.
Segundo ele, na reunião onde todos os consultores de Hitler votaram na forma de "fazer desaparecer os judeus", apenas dois votaram contra os campos de concentracão...os próprios representantes de Hitler nessa reunião. Todos os demais, graduados das SS e políticos próximos dos centros de poder, votaram pela exterminacão. Hitler preferia uma solucão mais simples como enviá-los todos para Madagáscar. Contudo, não fez grande oposicão aos campos. Para Hitler, segundo a mesma teoria, era importante ter a máquina de propaganda a funcionar e mostrar o poder do império, os detalhes (como a forma de funcionamento dos campos) eram isso mesmo, detalhes. Ao que parece nem ele sabia muito bem tudo o que lá se passava. Era Himmler quem controlava as operacões.
Quando ouvi esta explicacão fiquei com uma ideia diferente de Hitler. Um imperador louco, certamente, mas talvez com menos ódio aos judeus do que eu imaginava.
Ver os fornos foi um momento que dificilmente esquecerei (ali em cima nas fotos). O carrinho de mão com a forma certa de um corpo é de uma crueldade que não consigo imaginar.
A forma como o campo estava dividido...ciganos, russos, judeus. A escolha de judeus para controlarem outros judeus dentro do campo. A luta pela sobrevivência. A imundice de um wc comunitário onde as doencas se espalhavam e, por isso, ser o sítio mais seguro de Birkenau, já que nenhum guarda se atrevia a entrar lá. As reuniões e trocas de mercado negro aconteciam aqui. Os presos que nesta zona trabalhavam ou morriam contagiados ou ganhavam imunidade para a vida.
As famosas câmaras de gás onde os prisioneiros pensavam que iam tomar banho e onde acabavam mortos, às dezenas de cada vez. Como moscas. O requinte de ver chuveiros lá dentro, sem qq ligacão para a água, para que todos acreditassem e não se revoltassem até que a luz se apagasse.
Quando os russos avancaram para Berlim e, sabendo de antemão que a guerra estava perdida, os nazis destruiram as câmaras de gás para evitar que os aliados as utilizassem contra presos alemães. No fundo...o que eles tinham feito aos prisioneiros russos.
Auschwitz-Birkenau é um soco no estômago e uma licão de vida. É obrigatório para percebermos onde estamos e de onde viémos.
Fico contente por lá ter ido e espero nunca mais voltar.

domingo, 11 de maio de 2014

Next stop: Séc. XX


Próximo destino: Auschwitz.
Com eles.
Relato para a semana.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Escócia, o relato
























Ouvi alguém dizer em tempos que "toda a beleza do mundo está reunida em Itália".
Não sei se isso será verdade, mas compreendo perfeitamente que não estará certamente amontoada no Reino Unido. Mas claro...depende daquilo que os nossos olhos identificam como belo.
Monumentos, edifícios com história, cidades imperiais...não, não é o Reino Unido. Já se o conceito de beleza for a Mãe natureza, os lagos, o mar, o verde, a montanha, bom, aí já mudamos o tom da conversa.
A beleza imperial de Inglaterra concentra-se em Londres, o mesmo acontece na Escócia com Edimburgo. É uma cidade (pequena) cujo centro está inscrito no património da Unesco. Basta chegar e olhar em redor para perceber porquê. Para quem gosta de visitar cidades moldadas pela história, Edimburgo é O ponto de passagem da Escócia. 
O imponente castelo que lá no alto vigia a cidade recebe, segundo contam, 1 milhão de visitantes por ano. Há catedrais, galerias, palácios, restaurantes a perder de vista, monumentos e tudo o que se espera de uma cidade "clássica" que se tornou cosmopolita. É bonita e interessante. Para mim uma agrádavel supresa.
Sentimento oposto com a maior cidade escocesa (apesar de não ser a capital), Glasgow. Vale a pena passar por lá se estiver no caminho...ir à Escócia para visitar Glasgow é um daqueles erros que nos acompanha para a vida. É uma cidade operária que alimenta o resto do país. Para o turista, sobra muito pouco. Aliás, Glasgow é uma espécie de retrato do Reino Unido & Rep. Irlanda: cidades feias, escuras e monótonas, sem cor, tal como o céu que as cobre. 3 países depois (Inglaterra, Escócia e Rep. Irlanda), e tirando o centro de Edimburgo e de Londres, é esta a minha ideia da arquitectura das ilhas...
Pode ser que mude de opinião depois de ver Belfast e Cardiff. Não, não pode nada...
Agora, pegar num carro e comecar a fugir do cimento, é toda uma outra história.
As Terras Altas (Highlands) são uma espécie de refúgio sagrado, inóspito e de uma beleza incrivelmente imaculada.
A Escócia tem um plano, ou melhor, um debate, sobre a exploracão das Terras Altas para conseguir alimentar o país com energia renovável (100%) lá para 2020. Há quem se oponha por defender a conservacão do território que é, afinal, a origem da Escócia.
Era aqui que existiam os clãs de que ouvimos falar nos filmes e que formaram a base das tradicões escocesas. Foi também daqui que partiram as revoltas contra as invasões inglesas e, alguns séculos e derrotas depois, a debandada para outras paragens, deixando as montanhas desertas, tal como se encontram hoje.
Percorrer a Escócia é cruzar com a história em cada referência a uma batalha, em cada castelo recuperado, em cada monumento a ex-combatentes. E como é interessante a história desta gente.
Um país que fala orgulhosamente da sua independência (terão um referendo em Setembro) mas que apenas tem um parlamento há 15 anos. Um país que brada pelos seus heróis (William Wallace ou Bruce, rei dos escoceses, etc) e que sublinha as vitórias contra a coroa inglesa na perseguicão da independência em pleno séc.XVII, mas que viu os seus nobres venderem o país aos ingleses, um século depois, por causa dos interesses mercantis nas colónias do Império. "Freedom" ficou bonito na boca do Mel Gibson. A realidade foi outra e, como descobriram mais tarde os colonos do MayFlower, "cash is king".
As terras altas, com os seus lagos, vales, gente simpática e ovelhas espalhadas por todo o lado, são a imagem da Escócia. A razão principal que justifica uma visita. O Loch Ness é apenas um entre muitos. A curiosidade deste lago, para além do mito, é a sua dimensão. Cerca de 50km e uma profundidade que daria para 5 aviões lado-a-lado. É muita água...
Que simpáticos são os escoceses. Muito, muito simpáticos. Perceber aquele sotaque é todo um projecto, mas ultrapassada essa fase, é sempre a ganhar.
Não posso dizer que a gastronomia seja de bradar aos céus. A ovelha, sem que isso seja propriamente surpreendente, entra em todos os pratos, do pequeno-almoco ao jantar. "Haggis" é o nome a decorar. Os ingredientes são de fechar os olhos, mas o sabor agradavel.
Por mais que veja, mais compreendo que um Português não pode viajar pela gastronomia...sinceramente não faz sentido. Não existe melhor, neste planeta, do que aquela que de tantas formas diferentes, é confeccionada de Sagres a Caminha, do Funchal a Ponta Delgada.
Itália e Franca aproximam-se. Brasil e Caribe também. Mas como no nosso cantinho, enfim, não existe.
Para um fã do James Bond como eu, foi um extra em forma de bónus, passar por cenários do Skyfall ou World is Not Enough. Aliás, se seguisse o roteiro do personagem de Ian Fleming, também não ficaria com uma ideia muito afastada do mundo real.
Nada que não me tivesse já cruzado os sonhos.
Gostei da Escócia, mas não consegui tirar uma foto com a Nessie. Fica para a próxima.