segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O ponto de partida: Lisboa
















Só poderia ser este o ponto de partida.
Lisboa é a cidade onde nasci, onde estudei e onde passei maior parte da minha vida. Mas Lisboa foi também o meu primeiro destino ou pelo menos a primeira cidade que me causou fascínio enquanto ponto de chegada. Entre 85 e 89 voava entre Santa Maria, nos Acores, e Lisboa, com alguma regularidade. A chegada a Lisboa acontecia sempre de noite e as imensidão das luzes impressionava quem acabava de sair de uma ilha com 17km de comprimento. Apesar de estar a viajar para a minha própria terra, sentia-me sempre um turista em trânsito.
Nessa altura, Lisboa era para mim o centro do mundo. A maior e mais barulhenta cidade que eu conhecia. A duas horas de lá chegar, já sorria ao ver o boeing da TAP aterrar em Ponta Delgada sabendo que aquele era o meu passaporte para as luzes.
Era um deslumbramento inocente.
Hoje vejo Lisboa com outros olhos. Já não a acho tão grande, a confusão faz parte do cenário, reparo mais nos prédios devolutos e de 85 para cá percebi para que serve essa maravilha da tecnologia chamada PDM. Descubro em cada esquina coisas feias que outrora me passavam ao lado. Objectivamente estão lá os prédios em ruínas, os muros cheios de rabiscos, os passeios sujos, as filas de trânsito, a selva de cimento desalinhada na cidade (ex: telheiras) e nos subúrbios, o Tejo coberto de tapumes. É essencialmente uma ligacão sentimental aquela que me liga no séc.XXI a Lisboa. Percebo hoje os seus defeitos e tento adaptar-me a eles. Tento aceitar uma realidade que eu gostava que fosse diferente.
Concentro-me então no que de bom a cidade tem para oferecer. E é tanto. Desde logo aquele magnífico céu azul que não existe em mais lado nenhum. É curioso que Lisboa, apesar de ter sido o ponto de partida há mais de duas décadas, continua a surpreender-me a cada regresso. Rara é a vez em que não descubro um novo ponto para contemplar o Tejo, um bairro castico, um restaurante memorável ou uma calcada rodeada de história.
É esta constante descoberta que motiva o meu encanto por Lisboa.
É o conforto de saber que as sete colinas foram o ponto de partida e serão, hoje ou amanhã, entre etapas ou no fim da volta, o meu ponto de chegada.









2 comentários: