Já há algum tempo que não passo por aqui e a resposta está em parte nestas imagens. Alguns dos que vão lendo o que escrevo sabem que comecei um projecto de viagens chamado Magellan Route. No que a novos caminhos diz respeito, a Magellan tem ocupado todas as minhas investigacões e momentos no terreno. Todas as linhas escritas sobre o tema também aparecem no nosso site ou no facebook da Magellan, ou seja, acaba por não fazer muito sentido escrever num blogue pessoal sobre estas viagens.
Desta vez contudo, para quem não fez "like" na nossa página e não acompanha o que vamos fazendo, achei que devia partilhar aqui a última aventura.
Fui com um grupo absolutamente fabuloso percorrer Israel, os territórios ocupados da Palestina e a Jordânia. Tudo isto me gerava muitas dúvidas de início.
O meu gosto por viagens e rotas é algo que verdadeiramente me apaixona mas, como qualquer viajante, é também um processo muito pessoal, com ritmos próprios e gostos que nem sempre colhem a maioria. A minha paciência também não é propriamente algo digno de registo e, ao fim de algumas viagens a liderar grupos, confesso que não me sinto com a aptidão certa para as funcões.
Gosto de aprender em cada viagem mas, quando partilho isso com alguém, não me sinto confortável no papel de quem explica ou ensina. Não nasci para isso.
Depois há ainda o interesse de cada viajante. Há quem procure numa viagem uma foto para mostrar aos amigos ou um "check in" no facebook. Há quem procure perceber o mundo que nos rodeia. Não é preciso pensar muito para perceber que tipo de viajante é mais fácil de integrar num grupo...
O percurso para esta viagem incluia a passagem por zonas com alguma instabilidade devido aos recentes conflitos em Jerusalém e na Cisjordânia. E sentiu-se essa tensão.
Ruas bloqueadas, manifestacões, confrontos, muculmanos a rezarem no meio da rua em frente à policia de choque porque as mesquitas estavam fechadas, a parte velha de Jerusalém com mais polícias do que turistas.
Perguntava-me uma amiga se voltei igual. A resposta é não. Claro que não.
Nunca se volta igual daquela região. É impossível. Com ou sem conflitos (no momento em que lá estamos) temos sempre a sensacão de que estamos a escrever a História.
Entre aquilo que julgamos serem as certezas bíblicas e os factos históricos e políticos, a região tem tanto mas tanto para oferecer, que viagem alguma um dia ficará completa.
Andámos por Jerusalém, entre a via sacra, o monte do templo e o monte das oliveiras. Vimos o sítio onde Jesus pisou a terra pela última vez, a via por onde carregou a cruz que dizem ser nossa e o muro onde os judeus lamentam a perda do seu templo. Conhecemos um arménio que de dia arranja skodas e de noite nos mostra as iguarias do seu país de origem. Entrámos em Ramallah para ver o túmulo de Arafat. Ouvimos a história do Hamas e da Fatah. Em Belém, entre gregos ortodoxos, descobrimos a igreja da natividade e o local do nascimento de Jesus. Em Jericó vimos o mosteiro na montanha onde durante 40 dias e 40 noites foi tentado. Descemos até ao rio Jordão para a zona do baptismo. Do outro lado da fronteira vimos Jerash e as suas fabulosas ruínas, Amã entre a clássica confusão árabe e os bairros de luxo ocidentais. Dormimos num acampamento de beduínos e cantarolamos o Indiana Jones em Petra. A Jordânia é para mim a nova perdicão. Gente que transborda simpatia, história a perder de vista.
Descemos a Cisjordânia, num território da Palestina controlado por Israel, até ao mar morto. Fugimos das zonas turisticas e descobrimos uma zona com locais e gin tónico. Subimos Masada, o ultimo reduto dos judeus na revolta contra os romanos, e baixámos a temperatura no oásis de Ein Gedi.
Volto ao início e às minhas insegurancas. Esta viagem foi para mim memorável não só pelo que vi, mas principalmente pelas pessoas com quem viajei. Que grupo fantástico de gente interessada, divertida e com espiríto que se reuniu por aquelas paragens. Todos os dias foram longos e cansativos, carregados de actividades. Nem por uma vez faltou uma risada ou boa disposicão. O nível de palhacada foi tal que, quando voltei para casa, tinha verdadeiramente saudades deles. Se fosse assim sempre, este "trabalho" não custaria nada...parece que estive de férias.
Para o ano vamos (na Magellan) repetir este destino, mas dividi-lo em dois. Um entre Israel e Palestina, outro apenas com a Jordânia. Ambos com passagem pelo mar vermelho, o que não aconteceu desta vez.
Não se fica indiferente por ali. Não dá.
E, não sendo eu uma pessoa de fé, confesso que senti uma certa emocão no mosteiro da montanha em Jericó. No local onde "Jesus costumava orar" (segundo palavras dos locais) foi-nos dito para pedirmos um desejo. Eu imagino que em alturas de alguma descrenca nos Homens e no que nos rodeia tenhamos necessidade de apelar ao que não vemos. Deixei-me ir e pedi um desejo.
Alguns dias depois despedi-me do grupo e de uma viagem que adorei, regressei à Suécia na ante-véspera de um dos dias mais difíceis da minha vida. Durante uma semana, mesmo sem saberem, aquelas risadas e a história que nos envolvia apagaram da minha memória a angústia dos últimos meses.
Em 2016 voltarei com quem me quiser acompanhar. Amanhã saberei se o meu desejo foi atendido ou não.
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