sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Singapura, Malásia, Tailândia e Indonésia

















Esta viagem comecou, há muitos meses atrás, como tantas outras: uma promocão da Lufthansa.
É, quase sempre, o ponto de partida para as minhas voltas. Frankfurt para ser mais exacto. É aí que o mundo visto pelos olhos da Lufthansa acontece.
Depois de ver os dias errados no calendário e marcar a minha passagem, obrigado a quem me ajudou já agora, comecei a planear o percurso.
A ideia, como de costume, era simples. Visitar Singapura (era esse o ponto de chegada da promocão) e fugir um pouco do frio escandinavo por uns dias. Estava informado qb sobre o destino. Primeiríssimo mundo, muito organizado e limpo, seguro, com praias um pouco manhosas mas com algumas atraccões (entre as quais os Zoo em espaco aberto) que me interessavam conhecer.
Li um pouco mais e, tendo em conta a vizinhanca, achei que 5 dias numa cidade/país que em nada representa a realidade do Sudoeste asiático, seriam demais. Afinal, para ver coisas organizadas e limpas, vou à Suica, não ao outro lado do mundo.
Descobri uma low cost regional (Air Asia), que liga Singapura com o resto da Ásia. Uma espécie de Ryan Air mas em bom. Pelo custo de um jantar na Suécia, conseguia chegar a Langkawi, uma ilha  na costa oeste da Malásia. Resolvi então dividir os meus dias pelos dois destinos.
E em boa hora o fiz. Singapura é tudo aquilo que esperava. Skyline à lá Manhattan, transportes públicos impecáveis, custo de vida elevadíssimo, facilidade de comunicacão, um porto enorme comprovando a utilidade de hub marítimo da região, lojas, lojas e mais lojas. Um sítio onde qualquer europeu/americano passa uns dias sem se sentir fora de casa. Não fosse o clima equatorial com aqueles 30 graus e humidade galopante, e, estaríamos todos em casa. Afinal...o Starbucks e a Prada são iguais em todo o lado.
Saltei para a Malásia, mais precisamente Langkawi. Aí sim, já senti que estava no Sudoeste asiático. Barracas lado a lado com resorts. Boa praia, vendedores de rua, motas e carros a cairem de maduros. Restaurantes de luxo para turistas, restaurantes onde se viam apenas locais. O mesmo peixe em ambos, 10 vezes mais caro, como é óbvio, nos primeiros.
Gente simpática e sorridente. Mistura de cheiros e sabores. Mulheres de véu. Peixe na grelha com escamas. Morcegos aqui, macacos ali. Comunicacão muitas vezes feita por gestos. Sim, já estava onde imaginava. 
Resolvi alugar um carro e explorar a ilha. E que carro...tão podre, mas tão podre que em cada subida esperei por ver fumo no motor e seguir em modo Flinstone. Segui as recomendacões de quem o alugou e fiquei atento aos macacos na estrada. Subi a um teleférico lindíssimo (e alto como o raio!!) na companhia de um simpático casal indiano. A vista era deslumbrante e o dia, como em todos, carregado de nuvens. O clima seguiu uma precisão irritantemente impressionante. Sol de manhã, tromba de água a partir das 13h, nuvens até chegar a noite. Nunca falhou. A água até agradeci para suportar o calor, as nuvens é que me deram cabo das fotos...
Experimentei comida local e gostei. Continuo a achar que os paladares tailandeses são os melhores da região. Agora...aquela malta usa o picante como se fosse sal. Voltei com a boca desfeita. 
Gostei muito de Langkawi e senti-me sempre muito confortável. De dia ou de noite. No meu hotel ou entre os locais. Gosto de viajar assim.
Entretanto, e já que estava naquele mar fantástico (Andaman), pensei fazer um pouco de snorkeling. Reparei que algumas ilhas tailandesas estavam mesmo ali ao lado. O meu hotel oferecia um dia de snorkeling numa delas (Koh Lipe). 200 metros ao lado uma agência local oferecia o mesmo por metade do preco. Claro que segui os locais. Detesto esquemas papa-turista...
Parti de Langkawi num "speed-boat" que uma hora depois me colocou em Koh Lipe. Foi, sem sombra de dúvida, a viagem mais radical que fiz num barco. Metade do tempo era passado no ar e a outra metade a aguentar os solavancos criados pelas sucessivas colisões do casco com a água. Estava a ver em que altura o barco se partia em dois. Entretanto, algures neste processo, um dos motores comecou a soltar-se. A tripulacão, competente e com os meios necessários, sentou o mais gordo em cima do motor para aquilo se aguentar. Made in Malaysia. Top.
Koh Lipe foi uma extraordinária supresa. Uma ilha muito pequena que comeca agora a dar os primeiros passos com turistas. Praias óptimas, gente simpática, ambiente descontraído. Até demais, para quem vem com o chip europeu. São tão novos nisto que fazem do desenrascanco uma forma de arte.
Tinha comprado um pacote de snorkeling no lado da Malásia, com barco, equipamento e almoco incluido. Quando lá cheguei...não tinha nada. Mas tudo se arranjou. O rapaz da agência foi comprar um ananás, chateou não sei quantos donos de barcos até arranjar um que me levasse, tirou coletes de um lado, máscaras de outro, barbatanas daqui e bebidas dali. Depois de rapar uns quantos barcos, conseguiu meter tudo no mesmo e lá segui eu, com o meu guia para alto mar. O sol não colaborou mas os peixes estavam lá. E a água quente também. Enquanto os observava pensava: "porque é que não trouxe uma daquelas máquinas para fotografar debaixo de água???". Mas claro, para isso teria eu próprio de ser organizado e planear tudo como as pessoas. Portanto, em Koh Lipe, com uma Singha na mão e aquela areia fina, também estava em casa. 
Regressei a Langkawi no mesmo barco mas, desta vez, com um parafuso no lugar do gordo. Adormeci e acordei num dos saltos quando espetei as costas num pedaco de madeira. Pensei logo na reunião de designers antes da construcão o barco. "Epá...se vamos fazer uma barco onde o pessoal vai andar aos saltos, relevos pontiagudos de madeira atrás dos bancos parecem-me uma excelente ideia!!!" 
"Clap, clap, clap!!!", disseram os outros.
Despedi-me da Malásia e preparei-me para 12 horas em Singapura, até novo encontro com o fantástico A380 que em cerca de 13 horas de vôo me traria para Frankfurt. A propósito, para quem como eu tem terror de voar, a solucão são 3 xanax (2 já tentei) ou um A380. Aquilo não abana nem a tiro de canhão.
Estava um calor insuportavel em Singapura. Muitas horas para serem passadas entre cimento e lojas. Fui ver o amigo google maps e reparei que a sul de Singapura estavam umas quantas ilhas indonésias. Perguntei nas informacões do aeroporto como chegar lá. Indicaram-me dois portos de embarque. Duas estacões de metro e um autocarro depois estava no mais próximo. Tinha tempo para ir a duas delas. Uma era um resort de golfe, outra uma cidade normal. Escolhi, claro, a cidade cujo nome nem conseguia pronunciar e fui. Foi provavelmente uma das ideias mais estúpidas da minha vida. E sabe o Senhor que já tenho o meu rol de asneiras. 
A viagem de barco foi engracada, 2 horas em alto mar, numa espécie de catamaran. Paisagem sempre composta por verdejantes ilhotas.
Assim que desembarquei comecou o arrependimento. Tinha que pagar 10 USD para entrar.
Expliquei que só ia ficar umas horas e que não tinha USD, só cartão. Não aceitavam cartão. Já tinha 4 policias a falar comigo ao mesmo tempo. O mais desdentado disse: "go back to Singapore...arrrghhhh!!!".
Perguntei se podia pagar em rupias da Indonésia. Servia. Um deles disse que vinha comigo ao multibanco (não fosse eu querer fugir naquele paraíso). 150 000 rupias, disse o outro. Eh lá...isso são muitos zeros. Pedi à mulher polícia que tinha um iPhone que me deixasse ir ao google. Fiz a conversão de câmbio para ter a certeza que não iam todos jantar à minha conta. 30 minutos depois estava cá fora. Era como se estivesse a desmbarcar no Miratejo ("hiiiii...olha aí pá!!!", dizes tu que és do "Mira") mas em versão muito pior.

Estava completamente sozinho em aspecto. Em cada esquina, árvore ou banco estavam grupos de homens (mulheres nem pensar que aquilo é um país conservador!) que me tiravam as medidas. Um ofereceu ajuda (para quê??), 10 ofereceram táxi, 5 perguntaram de onde vinha, alguns acenavam do outro lado da estrada. E isto nos primeiros 100 metros. Segui a estratégia do costume. Disse não a toda e qualquer pessoa, de forma firme mas sem ser mal educado e nunca parei, dando a entender que sabia para onde ia. Quando cheguei à rua principal reparei que cada banco tinha um guarda na porta, o que é sempre uma excelente publicidade para o local. Entrei e perguntei onde podia comprar o bilhete para o barco de regresso.
Estava esganado de fome e não via nada que não fossem bancas de rua a vender rato espalmado em folhas de bambu. Uma simpática rapariga lá me indicou um sítio "muito famoso". Cheguei lá, desviando-me de buracos onde cabiam elefantes e deparei-me com um restaurante vazio com cerca de 8 empregados. Ninguém falava inglês e eu fiz aquele gesto dos italianos na direccão da boca. Convidaram-me a entrar na cozinha para escolher. Apontei para uns quantos pratos e para um coca-cola. Rebentei um pouco mais os lábios com aquelas malaguetas em estado líquido e usei a tijela de arroz para ensopar. Soube-me pela vida. Aqui, tal como na Malásia, come-se com as mãos. Na melhor das hipóteses chegam, à mesa, um garfo e uma colher. Não foi fácil partir frango e tirar as escamas do peixe nestes dias só com garfo e colher, mas, não passei fome nem perdi as licões de etiqueta que tanto trabalho deram a quem me tentou educar.
Regressei da Indonésia real com a sensacão que devia ter feito como os outros e esperado pelo Bali...que pardieiro.
Mas, enganos à parte, adorei estes dias e o percurso que se foi desenhando. Fiquei fã da região e com muita vontade de voltar para um percurso que inclua o Mianmar, a Tailândia e o Cambodja.
Alguém escreveu (ou disse) que a vida é como um livro e que, quem não viaja, nunca passa da primeira página.
Resume o que me vai na alma.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Volta ao mundo: próximas etapas





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O regresso à realidade, pelo menos à minha, é sempre particularmente doloroso. O verão deixa marcas e dicas de como deveria ser a vida nos restantes 11 meses do ano.
No meu caso isso é óbvio há anos. Entro no escritório, um qualquer, já trabalhei em tantos que nem as janelas decoro, sento-me num computador e comeco a ler documentos, ver linhas de código ou a imaginar solucões para os problemas que esperam que eu resolva. É o que me paga a renda.
Mas, quando o calendário marca Setembro, o frio aparece e eu insisto nos calcões que me acompanharam desde Lisboa, consigo adiar essa realidade por algum tempo.
A questão é sempre a mesma: como é que aqueles gajos que têm a minha profissão de sonho fazem? O pessoal que anda mundo fora, escreve sobre o que vê e, ao que parece, também paga as contas. Qual é o segredo? Descubro sempre mais alguém a quem pergunto onde está o Santo Graal. E já nem falo do Cadilhe ou de outros consagrados da praca. Há N espalhados pelo globo de origem portuguesa. "Como fazes?", pergunto eu. Em 80% dos casos as respostas repetem-se...opcões de vida que não se conjugam com casas para pagar, filhos para criar e famílias para construir. Uma espécie de viver o momento onde as responsabildades têm a duracão de uma semana. É redutor.
Certamente que será possivel conjugar uma vida em família e uma profissão de sonho. Eu é que ainda não descobri como.
Volto a olhar para as paredes e para a janela. Foram simpáticos estes meus novos colegas. Receberam-me com um gabinete onde a janela está decorada com uma orquídea. Gostei do pormenor.
Centro os olhos no computador. Agora penso na água cristalina. No zum-zum dos aeroportos. Na minha mochila onde cabe o mundo.
Os problemas podem esperar. Ninguém os vai resolver de qualquer forma.
Há que criar mais etapas de descoberta e ganhar asas que me libertem destas paredes.
Chicago, Singapura e Malásia, por esta ordem, nos próximos 2 meses, são os senhores que se seguem.
A volta ao mundo sonhada, continua hoje. Amanhã prometo que olho para o código.
 



terça-feira, 6 de agosto de 2013

A viagem mais difícil: casa

































Começamos logo com um problema difícil de resolver: onde fica "casa"? No meu caso, 7 anos depois de ter saído de Portugal, sei que "casa" fica para a direita de Boston e para a esquerda de Badajoz. Mais do que isso já é apontar ao Olimpo.
Estas férias de verão, pensadas e porque não dizê-lo, esperadas, acabaram por ter um argumento de Fellini. Familiares que desapareceram, encontros inesperados. Dias de improviso, uma muda de roupa sempre no carro. O Alentejo desbravado, a Lisboa dos momentos. A família que se juntou, os amigos que nunca falham. "Sim, esta é a nossa família", expliquei ao meu filho. Aos poucos parece colar todas as peças. O reencontro com antigos colegas para uma futebolada. Os caceteiros ainda são os mesmo, os simpáticos também. A surpresa de entrar num teatro e chorar com o desempenho do meu primo. Como é que ele me enrolou? Como?
Passar no raio-x e ouvir a senhora da Prosegur, 25 anos depois, "o menino lembra-se da sua professora de ed. musical? Sou eu.". O "menino". Ainda há gente simpática.
Sair do avião e ser cumprimentado por pessoas que não vejo há anos...sempre há algo de bom com esta coisa das redes sociais. Quase que me sinto parte de qualquer coisa, não sei bem o quê.
Ir a Mértola comer um ensopado. Porquê? Porque não? Já repararam como são simpáticas as pessoas no Alentejo? Não há outro pedaço de Portugal assim.
Encontrar os do costume e rasgar a Península Ibérica num comboio. O sorriso não muda. Os anos não passam. O País Basco é, até ver, o melhor segredo que nuestros hermanos têm para nos contar.
São montanhas a perder de vista e uma costa de eleição. Sem o cimento e os canalizadores ingleses do Sul. Como disse uma simpática velhota, "somos uma nação".
Passar em cada castelo e explicar ao Diogo como é que a Padeira aviava espanhóis. Ouvir, km após km, o álbum "cinema" do Rodrigo Leão e, no inicio de cada música, esperar a sagrada pergunta: "e esta senhora Pai, tinha saudades de quem?"
Dar um salto às ilhas da água quente. O mesmo Oceano, apenas a 2h de Lisboa, areia preta, fina e um mar cristalinamente morno. Um paraíso esquecido.
Numas férias que deveriam ser de descanso, fiz 3000km no alcatrão, apanhei 13 aviões e passei 14 horas num comboio. Não me posso queixar...detesto estar parado. Viver é ver, sentir e ouvir. Pelo menos para mim.
Começo a contar os dias para me ir embora e nem a obra está a meio.
Isto de concentrar 12 meses de vida em 6 semanas, não funciona. É a malfadada saudade que me aborrece. Gosto de quem está deste lado.
Regresso à Portela com sonhos e esperanças e, quando o avião atravessa a fronteira, encho-me de porquês. Ver o Tejo a ficar para trás, para quem não quer ir, não é experiência que recomende a alguém.
Não vos posso simplesmente meter numa mala, devidamente acondicionados, e levar para o iceberg?
E uns pacotes de Nestum.
Vá, pensem lá nisso.