O regresso à realidade, pelo menos à minha, é sempre particularmente doloroso. O verão deixa marcas e dicas de como deveria ser a vida nos restantes 11 meses do ano.
No meu caso isso é óbvio há anos. Entro no escritório, um qualquer, já trabalhei em tantos que nem as janelas decoro, sento-me num computador e comeco a ler documentos, ver linhas de código ou a imaginar solucões para os problemas que esperam que eu resolva. É o que me paga a renda.
Mas, quando o calendário marca Setembro, o frio aparece e eu insisto nos calcões que me acompanharam desde Lisboa, consigo adiar essa realidade por algum tempo.
A questão é sempre a mesma: como é que aqueles gajos que têm a minha profissão de sonho fazem? O pessoal que anda mundo fora, escreve sobre o que vê e, ao que parece, também paga as contas. Qual é o segredo? Descubro sempre mais alguém a quem pergunto onde está o Santo Graal. E já nem falo do Cadilhe ou de outros consagrados da praca. Há N espalhados pelo globo de origem portuguesa. "Como fazes?", pergunto eu. Em 80% dos casos as respostas repetem-se...opcões de vida que não se conjugam com casas para pagar, filhos para criar e famílias para construir. Uma espécie de viver o momento onde as responsabildades têm a duracão de uma semana. É redutor.
Certamente que será possivel conjugar uma vida em família e uma profissão de sonho. Eu é que ainda não descobri como.
Volto a olhar para as paredes e para a janela. Foram simpáticos estes meus novos colegas. Receberam-me com um gabinete onde a janela está decorada com uma orquídea. Gostei do pormenor.
Centro os olhos no computador. Agora penso na água cristalina. No zum-zum dos aeroportos. Na minha mochila onde cabe o mundo.
Os problemas podem esperar. Ninguém os vai resolver de qualquer forma.
Há que criar mais etapas de descoberta e ganhar asas que me libertem destas paredes.
Chicago, Singapura e Malásia, por esta ordem, nos próximos 2 meses, são os senhores que se seguem.
A volta ao mundo sonhada, continua hoje. Amanhã prometo que olho para o código.
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