segunda-feira, 22 de outubro de 2012

De Konstanz até à curva seguinte


















Pela qualidade da fotografia percebe-se que estamos na década de 90. Pela qualidade do cabelo também.
Konstanz (Constância) é uma pequena cidade universitária no sul da Alemanha. Banhada por um lago de idêntico nome ("Bodensee" em Merklês) e paredes-meias com as fronteiras de Suica, Áustria e Lichteinstein. Desta vez arrisquei escrever o nome sem ir ao google...aposto que está errado. Daqui para a frente, e como estou entre amigos, chamar-lhe-ei "Lixa".
Ora...porque foi especial esta viagem? Porque foi a primeira.
Tirando a ponte aérea que fazia regularmente desde os 8 anos entre Portugal Continental e Ilhas ou as célebres deslocacoes a Espanha para comprar caramelos, a viagem a Konstanz foi verdadeiramente a primeira vez que me afastei de Lisboa. Tinha 20 anos e nem percebia a sorte que me rodeava.
Apanhado numa visita familiar, que nao minha, aproveitei o simpático convite para ver algo diferente.  E se vi....
Recordo sempre com um sorriso esta viagem. Voltei mais tarde ao mesmo sítio, mas é difícil repetir emocoes da estreia.
Nesta altura ainda achava que os alemaes eram simpáticos e a Alemanha um sitio suportável. Konstanz, honra lhe seja feita, é uma cidade bonita e muito agradável. Uma das poucas que nao foi destruída pela II GG. Como já escrevi algures, a Alemanha foi o país que mais visitei desde entao, em turismo ou por motivos profissionais. De Norte a Sul, Este a Oeste, passando por todas as cidades mais importantes. Já nao partilho a opiniao dos tenros 20 anos.
Mas Konstanz e esta viagem em particular sao alheios a isso.
Desde logo a situacao geográfica da cidade. Banhada por um lago enorme, protegida pelas montanhas e a poucos passos da Suica.
A forma mais rápida de lá chegar foi através de Zurique. Primeira exclamacao da viagem: um aeroporto com comboio. Nunca tinha visto. O Planet Hollywood com as maos da Demi Moore ou o famoso Sprüngli com chocolate do dia. Uma cidade limpa, as lojas da Cartier, os carros de luxo. Tudo novidade.
Novo choque quando entrei na casa dos meus simpáticos anfitrioes: estava quente. Nunca tinha estado numa casa aquecida, ou vá lá, onde o calor nao estivesse concentrado no "elemento" ou na lareira. A casa estava a uma temperatura constante. Lá fora gelo, cá dentro t-shirt.
Lembro-me também, bem, de alguns livros que por lá encontrei. "Comunismo na Colômbia" e o "Tarrafal". Este último marcou-me bastante num período em que tentava perceber os movimentos políticos no nosso país. Quando vejo o que se passa hoje e o destino que Passos Coelho e Relvas reservam para o país, penso, mais valia ter ficado quieto.
Quem me recebeu em Konstanz deu-me a possibilidade de experimentar uma série de coisas novas. Gyros e tsatsiki por exemplo. A iniciacao no repasto grego. "Pao com fatias de carne", kebab para os amigos, dos turcos. Desportos de neve. A primeira vez que me "montei" num ski ajudado por um instrutor que mal falava inglês e que me largou de uma ladeira sem explicar como se travava. Fiquei com os joelhos inteiros e também com o gosto pela modalidade.
A coincidência de ter conhecido o Lichsteinstein, um principado com 3 ruas e um castelo lá no alto. Numa das ruas está a capital (Vaduz) e na rua de baixo o estádio que Portugal normalmente usa para as escovas nas fases de qualificacao.
E porquê coincidência? Porque normalmente, a caminho das montanhas na Suica, uma curva errada dava entrada na Áustria ou no Lichtenstein. E essa era normalmente a emocao do dia...sair de casa para um dia de ski na Suica, sem saber para onde nos levaria a curva seguinte.
O meu anfitriao nao me levará a mal se confidenciar que me fartei de rir dentro daquele carro. Enfim, como disse ali em cima nem sabia a sorte que tinha.
Agora que penso nisso, será que agredeci vezes suficientes a experiência única que me proporcionaram? Espero bem que sim.
Konstanz foi a minha primeira vez nesta coisa da mochila às costas. E foi único.
Para quem quer visitar a Alemanha e ver uma cidade sem a cosmética (feia q.b.) do pós-guerra nao deixe de passar por lá.
E enganem-se nas curvas também. Vale a pena.



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