Já o
Uruguai foi todo um outro filme. Do que está escrito no post anterior, entenda-se.
O
objectivo era ver/ouvir/sentir exactamente o contrário do que tinha
vivido na capital Argentina. Trocar a confusão pela paz do campo. Ou qualquer
coisa parecida.
Mesmo em
frente a Buenos Aires está uma “cidade” chamada Colonia del Sacramento. Uma
quase vila alentejana que, em tempos, foi território português e que servia,
entre outras coisas, para fazer contrabando e rivalizar com os espanhóis que se
sentavam em solo argentino. Sempre os nobres ideais do grande povo Luso.
Claro que
isto deu pancada de meia-noite e o território mudou de mãos como um microfone
ao som de “morena, ó morenita” . O resultado foi uma cidade fortificada, com
restos de Portugal e Espanha que, muito bem, os Uruguaios aproveitaram para
elevar a património da Humanidade e com isso, atrair muitos turistas.
Atravessámos o Mar del Plata e 1h depois chegámos ao Uruguai. Como sempre levava os calções na
mochila. Tanto faz se me desloco para a Gronelândia ou para as Bahamas. Se há
água tenho que me molhar. Mas não, não aconteceu…
Dizia
Vinicius a Toquinho, antes de fazer soar os primeiros acordes da Garota de
Ipanema, “Vamos fazer direitinho como fazíamos lá no nosso show em Mar del
Plata?”. Desde então que esta zona povoa os meus pensamentos. Quando lá
cheguei, bom, confesso que não encontrei a tonalidade desejada. Quase 200 km
entre Sacramento e Montevideo, toda a costa Oeste do Uruguai, escorria entre o
castanho claro e o castanho escuro. Decididamente
não é a minha praia. Nem da garota de Ipanema provavelmente.
As casas, a rua de pedra solta, as lojas, os cafés. Tudo
estranhamente familiar, ali, tão longe de casa. Faltou açorda no menu para
estarmos em Borba.
Colonia é
uma cidade simpática e a parte histórica, entre as muralhas, muito bem conservada.
Curiosamente, ou não, dividida em duas partes: a metade portuguesa e a metade
espanhola. A nossa é muito mais gira e tem melhor vista para o mar. Ninguém nos
passa a perna quando o assunto é divisão de território.
Também
gostei do conceito de auto-estrada. Tem rotundas,
aldeias, inversões de sentido e paragens de autocarro. Sempre a aprender no
Novo Mundo.
Passeava
por ali um rato gigante que ao que parece se chama ”capivara”. Boa gente
também.
Uma
palavra de agradecimento para os brasileiros que enchem aquela zona como
turistas. Graças a eles, vi pela primeira
vez nativos em Castelhano a tentarem usar o Português como forma de comunicação. E que bem que isso me soube. Só para
variar…
Muito
simpáticos os uruguaios. Fiquei com uma excelente impressão.
Regressei
a Buenos Aires com a costa Oeste uruguaia no olhar. Foi bom passar por ali. E se tivesse mais tempo teria seguido para o Rio Grande do Sul, no
Brasil. Fica sempre um nó por desatar.
Já a
chegar ao caos argentino, vejo Fernando Nobre, o nosso camarada da AMI.
Pensava,
erradamente, que estaria a fazer a travessia do deserto, quando afinal era no
barrento Mar del Plata que trilhava o seu caminho.
Então e
voltar? Claro que sim. Parece que na Punta del Este acontece o Algarve uruguaio
e o Atlântico recupera o seu tom azul. Deve ser giro acompanhado com mate.
Uma caixinha de surpresas este pequeno Uruguai.
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