O objectivo desta viagem era atravessar a Bósnia e Hercegovina de norte a sul e pernoitar em Sarajevo, a capital do país.
Estava informado sobre a história recente do país, da situacão política e da seguranca que oferecia a turistas (total!).
O que eu não sabia e descobri da pior maneira, é que o país tem montanhas por todo o lado e auto-estradas só em sonhos. O mesmo é dizer que atravessar um país praticamente sempre em montanha é, em português corrente, um pincel.
As paisagens eram majestosas mas ao fim de 10 horas só queria 500m em recta.
Outro detalhe importante prende-se com o mapa do país. Todos sabem que o território é uma manta de retalhos mas os mapas não assinalam enclaves e coisas do género.
Mal passei a fronteira encontrei uma placa a dizer "Bem-vindo à Sérvia". Olhei para trás e vi a bandeira azul e amarela da Bósnia. Fiquei confuso. Entretanto perguntei a uma pessoa que estava parada dentro de um carro o seguinte: "Amigo, estamos na Sérvia ou na Bósnia".
Ele respondeu "Bósnia".
Deduzi então que estivesse num enclave sérvio. Nas negociacões de paz da guerra da Bósnia o Milosevic conseguir retirar umas fatias ao país com o argumento da maioria sérvia. Esses enclaves pertencem à Sérvia, mas não me parece que os bósnio-croatas e bósnio-muculmanos aceitem isso. Concluí também que a pessoa que me dera a informacão não era certamente sérvia...
Os 500 km seguintes foram de aprendizagem sobre esta manta.
Quando as placas informativas apareciam em cirílico, estava num enclave sérvio, em árabe numa zona de maioria muculmana. Alfabeto como o nosso estava em zona croata ou mista.
Não sei como é que esta gente se entende...
Até Sarajevo a paisagem é dominada pelo verde e por zonas rurais. Parece um país parado no tempo, ainda dominado pela agricultura de subsistência.
Sarajevo foi a primeira cidade digna desse nome que vi, também ela rodeada por colinas.
Aliás...foi a partir dessas colinas que os sérvios bombardearam e cercaram a cidade durante 3 anos.
As marcas continuam perfeitamente visíveis em todo o lado. Aqui e ali um edifício recuperado, mas há buracos de bala por todo o lado. Na cidade vivem pacificamente todas as etnias. Há mesquitas, igrejas católicas, bandeiras muculmanas, bandeiras bósnias, zona de comércio muculmana, etc.
Apesar de estar bastante degradada, gostei de Sarajevo. A cidade tem o seu quê. Talvez seja a sua parte histórica. Além do recente cerco, também foi ali, na ponte latina que Franz Ferdinand foi assassinado, servindo este episódio como desculpa para o início da IGG.
Achei as pessoas simpáticas, simples e atenciosas. Como bom garfo fiz questão de provar a especialidade local: "cevapcici".
Um enorme casqueiro aberto e recheado de carne de carneiro, acompanhado por cebola picada.
Óptimo para o hálito.
Gostei da experiência mas não me parece que lá queira voltar.
Fico no entanto com a curiosidade de perceber como estará a cidade daqui a 10 anos, depois de um esforco de recuperacão e de mais uma década de paz.
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