terça-feira, 6 de agosto de 2013

A viagem mais difícil: casa

































Começamos logo com um problema difícil de resolver: onde fica "casa"? No meu caso, 7 anos depois de ter saído de Portugal, sei que "casa" fica para a direita de Boston e para a esquerda de Badajoz. Mais do que isso já é apontar ao Olimpo.
Estas férias de verão, pensadas e porque não dizê-lo, esperadas, acabaram por ter um argumento de Fellini. Familiares que desapareceram, encontros inesperados. Dias de improviso, uma muda de roupa sempre no carro. O Alentejo desbravado, a Lisboa dos momentos. A família que se juntou, os amigos que nunca falham. "Sim, esta é a nossa família", expliquei ao meu filho. Aos poucos parece colar todas as peças. O reencontro com antigos colegas para uma futebolada. Os caceteiros ainda são os mesmo, os simpáticos também. A surpresa de entrar num teatro e chorar com o desempenho do meu primo. Como é que ele me enrolou? Como?
Passar no raio-x e ouvir a senhora da Prosegur, 25 anos depois, "o menino lembra-se da sua professora de ed. musical? Sou eu.". O "menino". Ainda há gente simpática.
Sair do avião e ser cumprimentado por pessoas que não vejo há anos...sempre há algo de bom com esta coisa das redes sociais. Quase que me sinto parte de qualquer coisa, não sei bem o quê.
Ir a Mértola comer um ensopado. Porquê? Porque não? Já repararam como são simpáticas as pessoas no Alentejo? Não há outro pedaço de Portugal assim.
Encontrar os do costume e rasgar a Península Ibérica num comboio. O sorriso não muda. Os anos não passam. O País Basco é, até ver, o melhor segredo que nuestros hermanos têm para nos contar.
São montanhas a perder de vista e uma costa de eleição. Sem o cimento e os canalizadores ingleses do Sul. Como disse uma simpática velhota, "somos uma nação".
Passar em cada castelo e explicar ao Diogo como é que a Padeira aviava espanhóis. Ouvir, km após km, o álbum "cinema" do Rodrigo Leão e, no inicio de cada música, esperar a sagrada pergunta: "e esta senhora Pai, tinha saudades de quem?"
Dar um salto às ilhas da água quente. O mesmo Oceano, apenas a 2h de Lisboa, areia preta, fina e um mar cristalinamente morno. Um paraíso esquecido.
Numas férias que deveriam ser de descanso, fiz 3000km no alcatrão, apanhei 13 aviões e passei 14 horas num comboio. Não me posso queixar...detesto estar parado. Viver é ver, sentir e ouvir. Pelo menos para mim.
Começo a contar os dias para me ir embora e nem a obra está a meio.
Isto de concentrar 12 meses de vida em 6 semanas, não funciona. É a malfadada saudade que me aborrece. Gosto de quem está deste lado.
Regresso à Portela com sonhos e esperanças e, quando o avião atravessa a fronteira, encho-me de porquês. Ver o Tejo a ficar para trás, para quem não quer ir, não é experiência que recomende a alguém.
Não vos posso simplesmente meter numa mala, devidamente acondicionados, e levar para o iceberg?
E uns pacotes de Nestum.
Vá, pensem lá nisso.

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