Em Helsínquia a música foi outra.
Desta vez o turista não era eu.
Em 2001, algures durante o meu percurso académico, concorri a uma vaga no programa Erasmus (acho que hoje em dia tem outro nome).
Se a memória não me engana existiam 3 destinos possíveis: Haia na Holanda, Oulu no norte da Finlândia e…não me lembro da outra. Afinal a memória atrapalha.
Lembro-me no entanto a razão pela qual escolhi a Finlândia: a distância. Era, na altura, aquele que me parecia ser o destino mais “exótico” e diferente. Sim, sim…também havia a história da universidade em questão, os programas de estudo, blá, blá and so on. Detalhes. O que eu queria mesmo era ver a Finlândia.
A experiência em Oulu daria um pequeno livro mas fica para outras núpcias. Constato agora que não tenho qualquer registo fotográfico desses meses passados no cu do mundo, encostado ao Ártico.
De vez em quando penso nessa fase da minha vida. O que aprendi por aqueles lados abriu (ou pelo menos ajudou) as portas do meu primeiro emprego e ao fim de 10 anos, ainda me vai pagando a renda. Se algures na vida acertei em alguma decisão, deve ter sido nesta. O mais estranho nisto tudo é que ninguém queria a vaga. O governo português dava uma bolsa que chegava para pagar a viagem e 3 meses de renda, ao mesmo tempo que os acordos entre universidades permitiam trocar 1 ou 2 cadeiras intragáveis por uns meses de forró. Por alguma razão que até hoje não percebi, ninguém achava isto um bom negócio.
Voltando a Helsínquia.
Um grupo de amigos, perto da altura dos meus anos, fez a gentileza de me ir visitar. O ponto de encontro foi Helsínquia.
Foi o meu primeiro contacto com um pais nórdico. Tenho desses dias memórias soltas. Boas, muito boas. Sinto alguma dificuldade em escrever sobre Helsínquia com os olhos de um turista.
Desde que me mudei para a Suécia visitei todos os países vizinhos, excepto a Finlândia. Acho que quero manter estas imagens que vagueiam no meu espírito.
Lembro-me que a parte mais viva da cidade era junto ao porto. A estacão central, o senado lá em cima (a imagem de marca da cidade), os barcos que se preparam para atravessar o Báltico e a fortaleza construída pelos suecos por causa das invasões russas (suomenlina). O verde que se espalha por todo o lado. Na altura uma novidade para mim.
Não é uma cidade particularmente cosmopolita. Tem os seus encantos, mas não é a Paris do norte…
Aliás, se não me engano, Helsínquia foi criada em redor de um porto com o principal objectivo de competir com Tallinn, à altura uma potência no outro lado do Báltico. Ou seja, não era propriamente uma zona de artistas e poetas.
Foi a primeira vez que andei de bicicleta a visitar uma cidade. Muitas “primeira vez” aconteceram ali. Nunca tinha visto urinóis a céu aberto ou executivos de fato e gravata no chão às seis da tarde depois de um after work. Nunca tinha visto uma gorda a enfardar 2 fatias de pizza familiar sem mastigar. Miudos em cima de camiões com chapéus de marinheiro que festejavam a conclusão do 12 ano com garrafas de vodka. Entretanto já percebi que é tradicão nórdica. Os miudos. Os executivos. Ah…e as gordas.
Um desses dias percorríamos uma rua no centro (mikonkatu) quando ouvimos numa esquina uma banda de rua que improvisava o “samba de verão” do Caetano Veloso.
Para mim, que pela primeira vez estava longe de casa, aquele momento teve particular emocão. Alguém cantava na minha língua uma cancão que esteve presente durante a minha infância em casa do meu pai. E ali. Onde Judas tinha perdido as botas. Claro que demos o nosso pézinho de danca antes de seguirmos para o rodízio de pizzas (onde também havia espectáculo).
Ando aqui, em Português técnico, “vai não vai” para lá voltar há não sei quanto tempo. Este puxar pela memória deu-me o empurrão que faltava.
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